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- Redação/Jornalismo Eitv
- há 9 horas
- 2 min de leitura
O Tempo queer: o tempo que nos roubaram

Para as pessoas LGBTQIAPN+, o tempo não segue o mesmo compasso socialmente estabelecido. Desde a infância, muitos de nós precisamos performar algo que não somos ou esconder características essenciais para evitar repressões, preconceitos e até mesmo violência. Isso nos rouba experiências fundamentais e atrasa vivências que, para outras pessoas, são tidas como naturais. Enquanto colegas de escola trocam confidências sobre seus primeiros namoros, muitos jovens LGBTQIAPN+ sequer se permitem sonhar com isso. Assim, afetos e desejos legítimos acabam sendo silenciados, adiados, empurrados para um depois que nem sempre chega com a leveza que deveria – se é que chega.
Na adolescência, esse descompasso se acentua. Não é raro que pessoas LGBTQIAPN+ cresçam sem nunca terem visto um casal queer se abraçando na rua ou sendo representado com respeito na cultura pop. Essa ausência de referências e permissões sociais torna a própria experiência de amar uma aventura clandestina. Namorar livremente, experimentar afetos ou apenas viver a paixão adolescente com intensidade são privilégios negados a muitos de nós. Isso faz com que a maioridade chegue carregada de urgência: queremos viver tudo o que nos foi negado, mas sem as mesmas bases de maturidade emocional ou afetiva.
Na vida adulta, o tempo continua sendo um território disputado. A ausência de marcos temporais — como o primeiro amor vivido sem medo, o apoio familiar ao se assumir, a naturalização do próprio corpo e identidade — repercute. Alguns tentam correr atrás do tempo perdido, o que, por vezes, leva a escolhas apressadas ou idealizações intensas demais. Outros ainda sentem que estão sempre começando do zero, como se a vida real tivesse começado apenas após o armário, após a aceitação, após a coragem. E é por isso que precisamos falar sobre isso: porque o tempo das pessoas LGBTQIAPN+ é um tempo que precisa ser respeitado, reparado, reconhecido e, principalmente, vivido.
Por: Juh Brilliant (@juh_brilliant) – Autor independente dos livros O Menino das Meias, BRILHANTE?! e Amigas Para Sempre..., pedagogo e fotógrafo.
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